sábado, 7 de junho de 2014

AMIZADE EM TEMPOS LÍQUIDOS

por Rachel Maux

O surgimento e disseminação das Redes Sociais Digitais, como Facebook, Twitter, Instagram, entre tantas outras que permeiam a sociedade atual, trouxeram consigo uma nova forma de relacionamento, de conexão virtual, a amizade líquida.
Fonte: Google Imagens
O conceito de liquidez dos tempos atuais foi criado pelo sociólogo e professor polonês Zygmunt Bauman, profundo estudioso da sociedade pós-moderna, e da fragmentação e desintegração da estrutura social que vivenciamos.
Com mais de 50 livros publicados, a maioria best-sellers, cujos títulos abrangem desde modernidade líquida a assuntos diversos como política, poder, vigilância, juventude, educação, consumismo ou amor, Bauman analisa com simplicidade e lucidez os novos tempos, onde nada é feito para durar, para ter solidez.
Segundo ele, nesse momento onde a globalização e o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação nos permite a liberdade de alcançar um universo infinito de múltiplas conexões, ao mesmo tempo nos tornamos extremamente frágeis e solitários, sem termos laços fortes em que se sustentar. Vivemos a incerteza e a insegurança do desamparo social. Somos uma multidão de solitários conectados em rede.
Os amigos, assim, como as coisas, são mantidos enquanto ainda trazem satisfação e comodidade. Ao primeiro sinal de desconforto, são prontamente deletados de nossas vidas com um simples toque no teclado. Se esvaem entre as redes como água que não consegue manter a forma sob pressão.
Em entrevista concedida ao Café Filosófico, Bauman salienta a fragilidade da “amizade Facebook” e as consequências do individualismo exacerbado do mundo atual.
Embora tenhamos multiplicado exponencialmente a quantidade de conexões realizadas no mundo digital, de relações online estabelecidas nas diversas plataformas sociais, perdemos a qualidade nessas novas relações, perdemos o sentido de comunidade, de coletividade.
                                                                     Fronteiras Pensamento, Londres, 2011.
A amizade, e também os valores, nessa sociedade líquida, se dissolvem facilmente, em um ritmo acelerado de desconexão e substituição, provocando medo e insegurança nas pessoas, que se voltam para a ilusão do ter para pertencer, para existir. Há um estímulo exacerbado ao consumismo, como forma de auto definição social, como uma busca ilusória à felicidade.
A auto exposição é intensa. Nas redes sociais perde-se a noção de privativo, tudo tem que ser compartilhado, mesmo que sejam meras ilusões pré-fabricadas. Transforma-se assim, as pessoas em reféns da autoimagem que constroem de si e do hiperconsumismo.
                                                                      Luso Ciências, Youtube, 2013.
É a ânsia de consumir sempre o novo, novas oportunidades, novos recomeços, novas vidas que movem essa multidão sempre em frente, sempre em busca, numa maratona sem fim, da felicidade inalcançável, porque ela - a felicidade real, não comporta em si o conceito simplificado de liquidez.

Rachel Maux.

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